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Uma investigação sobre a circulação de espécies vegetais, desenvolvida a partir do estudo de ilustrações botânicas e do uso de ferramentas voltadas ao mapeamento de padrões visuais e trajetórias iconográficas. A pesquisa analisa de que modo as pranchas ilustradas atuaram como instrumentos dos regimes coloniais e extrativistas, sustentados por sistemas de classificação científica. Para tanto, foram realizados exercícios que possibilitaram o cruzamento de informações provenientes de distintas coleções institucionais, com o intuito de construir um banco de dados interconectado. Na fase atual, o estudo concentra-se na análise de florilégios e códices botânicos produzidos entre os séculos XVI e XIX, com o propósito de compreender os processos de colonização das plantas e de examinar a ilustração como prática de observação e registro desenvolvida por botânicos, jardineiros e viajantes.

 

Essa pesquisa utilizou acervos da Peter H. Raven Library, do Missouri Botanical Garden; da Biblioteca Digital del Real Jardín Botánico de Madrid; do Getty Research Institute; das Smithsonian Libraries and Archives; e da Biodiversity Heritage Library. Também foram consultados arquivos brasileiros, como os da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, da Biblioteca Digital Luso-Brasileira e da Biblioteca Nacional. Parte dos resultados da investigação foi publicada em dois capítulos do livro Ciências, Artes e Humanidades, organizado pelo Núcleo de Humanidades do Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Por meio de visitas a bibliotecas especializadas, além da análise de publicações históricas, investigou-se como as representações produzidas em desenhos e gravuras expressaram uma forma específica de observar e organizar a natureza, orientada por uma lógica colonial aplicada ao cultivo e à classificação das espécies. A etapa inicial do projeto envolveu a digitalização de ilustrações extraídas de obras históricas, sistematicamente organizadas em caixas conforme sua datação. A partir desse material digitalizado, foram elaboradas publicações impressas em formato de fac-símile, que posteriormente serviram de base para análises desenvolvidas e divulgadas em artigos acadêmicos.

Uma das etapas do projeto consiste na criação e no desenvolvimento contínuo de um repositório digital voltado à organização, indexação e análise de ilustrações botânicas provenientes de acervos públicos e institucionais. O repositório vem sendo estruturado a partir da digitalização das imagens, acompanhadas de metadados relativos à autoria, datação, procedência, técnica empregada, espécie retratada e fonte digital de origem. Esses dados estão sendo integrados em uma base relacional que permite a ordenação cronológica e a filtragem por parâmetros morfológicos, taxonômicos e geográficos. O sistema está em processo de desenvolvimento em Python, utilizando Flask para o backend e bibliotecas como Pillow, OpenCV e scikit-image para o processamento e padronização das pranchas. O objetivo dessa etapa é mapear recorrências e variações na representação de espécies vegetais em distintos contextos históricos e geográficos, identificando duplicatas, cópias derivadas e convenções visuais empregadas na representação de uma mesma espécie em diferentes obras.

No projeto, foram publicados textos de análise que percorrem a trajetória da ilustração botânica entre os séculos XVI e XX, abrangendo desde os primeiros compêndios dedicados à catalogação de espécies vegetais às produções científicas do período colonial. A primeira parte investiga obras europeias dos séculos XVI ao XVIII, como Herbarium Vivae Eicones, Hortus Eystettensis e Theatrum Botanicum, e discute como a observação direta das plantas estruturou os métodos ilustrativos voltados à identificação e à classificação das espécies. A segunda parte aborda a consolidação da botânica no Brasil a partir do século XVII, analisando obras como Flora Fluminensis, Sertum Palmarum Brasiliensium e Orchidaceae Brasilienses.

​​​​Na etapa atual do repositório, reúnem-se registros sobre a formação da ilustração botânica no Brasil, com destaque para ilustradoras que contribuíram para esse campo. Entre elas, Maria Werneck de Castro (1905–2000) desenvolveu uma produção em aquarela voltada sobretudo às espécies do cerrado, muitas em risco de extinção. Sua formação teve início nos anos 1940, quando passou a produzir desenhos anatômicos sob orientação de Raimundo Honório, vinculado ao Instituto de Manguinhos e à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A transferência para Brasília, em 1959, redefiniu seu percurso: interessada na flora do planalto, percorreu a região para documentar espécies em estudos científicos. Seu trabalho ganhou projeção internacional após integrar uma exposição na Pensilvânia, o que a motivou a dedicar-se exclusivamente à ilustração botânica na recém-criada Universidade de Brasília. Nos anos 1970, de volta ao Rio de Janeiro, produziu séries sobre Dorstenia e sobre as Moráceas, colaborou com o Centro de Botânica da FEEMA e, posteriormente, continuou atuando com apoio do Jardim Botânico.

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Repositório Documental de Ilustração Botânica

Busca, seleção e organização de ilustrações botânicas. Repositório digital (em processo) desenvolvido em Python (Flask, Pillow, OpenCV, scikit-image, scikit-learn, NumPy, colorthief e joblib) para análise, indexação e comparação de imagens oriundas de acervos institucionais. Fac-símile impresso a laser (21 × 26 cm), com 432 páginas em papel 90 g e encadernação em brochura. Vídeo de 14 minutos apresenta a linguagem computacional empregada no projeto, acompanhado de dois artigos científicos publicados no e-book Ciências, Artes e Humanidades, da Editora UFMA.

Herbários, Livros e Compêndios, Ciências, Artes e Humanidades, Editora UFMA   

Palmeiras, Orquídeas e outras Espécies Vegetais, Ciências, Artes e Humanidades, Editora UFMA

2023-2025

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