A tese de doutorado é um trabalho acadêmico-científico que segue metodologias específicas definidas pela área de estudo, apresentando evidências por meio da análise de hipóteses. Integra diferentes áreas do conhecimento, métodos e processos para descrever e formular hipóteses que sustentam teorias científicas. Essas teorias buscam descrever, prever e controlar fenômenos com base em evidências empíricas, leis, modelos e conceitos. A partir disso, esta pesquisa segue etapas de observação, formulação de hipóteses, testes, análise de resultados e validação. Sua estrutura conceitual funciona como uma metáfora do próprio método científico, refletindo convenções através da organização e apresentação do trabalho.
Esta pesquisa foi realizada durante o doutorado em Artes Visuais no Programa de Pós-graduação em Artes da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, com bolsa fornecida pela CAPES. Parte do projeto foi desenvolvido no Centro de Microscopia da UFMG. A banca examinadora foi composta por Fabio Morais, Raquel Stolf, Rodrigo Borges e Yiftah Peleg. Orientação de Amir Brito Cadôr. Em 2024, a obra foi apresentada como uma instalação durante a mostra individual homônima no Centro Cultural da UFMG.
O estudo Observação Microscópica no Brasil (1893-1961) configura-se como um desdobramento da tese de doutorado que utilizou a microscopia de fluorescência. Durante a elaboração deste capítulo, que examina a integração do microscópio no desenvolvimento científico brasileiro entre 1893 e 1961, identificou-se a necessidade de ampliar a investigação em virtude do acervo documental pesquisado e das diversas possibilidades de análise. Essa percepção resultou na concepção de um novo projeto, atualmente em fase de desenvolvimento, voltado para o histórico da microscopia.






A capa da tese parece uma ode à observação como um método visual da prática científica: uma usina imagética. Será que na arte, a imagem também faz parte de um método de trabalho, além de ser obra em si? É a primeira questão que me ocorre. Em Teoria é uma pesquisa em artes visuais que aborda o ato de observação e, consequentemente, a imagem, intercambiando os campos da arte e da ciência. A pesquisa parece demarcar (como um marca texto fosforescente) as diferenças ético-estéticas – ou talvez as semelhanças – entre os processos de produção imagética de artistas e cientistas. Ultrassons têm base sonora e ressonâncias magnéticas captam sinais de radiofrequência. Ambos traduzem esses dados em imagens que se tornam simulacros do corpo, no imaginário geral. Nesse imaginário, construído a partir da medicina, o interno do corpo é colorido, como nos atlas de anatomia, ou é monocromático, na gama de cinzas de raios-X, ultrassons e tomografias. A tese não se limita ao imagético e me lembra que, além da visual, a ciência é discursada em linguagem verbal. É ela que produz postulados sob o modelo discursivo teórico e também sob modelos comunicacionais que dialogam facilmente com a sociedade – podendo, inclusive, narrar pesquisas e processos do mesmo modo como romancistas fazem, com analogias, metáforas, jogos de linguagens, arcos narrativos etc. A tese narra métodos de pesquisas assistidos (tal qual espetáculo) pelo leitor-observador-usuário-você, ou vivenciados (performados), através de procedimentos e de resultados traduzidos em cores, emissões de luz e fosforescências que tornam-se linguagem. Fala também de nomeações e codificações, rotulagens de instrumentos e de dados no canteiro de obras da prática de pesquisa científica, coisas que geram um sistema estético, um design físico e gráfico, que organiza o trabalho que gera, entre outras coisas, esse próprio design. A tese rotula ainda uma série de postulados e os distribui em um glossário ético-funcional que mapeia procedimentos e, ao mesmo tempo, evidencia o quanto esses procedimentos seriam, digamos, cartesianos demais no campo da arte. Não que esse glossário não possa ser usado em uma pesquisa acadêmica artística, claro que pode, mas com certeza a práxis artística chegaria a limites que precisariam ser subvertidos e ultrapassados, fazendo do glossário mais uma partitura de performance que lida com a contingência do que um rígido manual de pesquisa.
Fabio Morais, 2023
Em teoria
Tese de doutorado
Banco de amostras biológicas extraídas da análise em microscopia eletrônica utilizando o software ZEN 3.7
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2019-2023
Observação Microscópica no Brasil (1893-1961)
Volume 2. Organização de Flávio Aparecido de Almeida e Marcus Fernando da Silva Praxedes
Editoria Científica Digital
2025